quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A vida e os seus ramos

Há já muito tempo que não perdia tempo a analisar um filme. A verdade é que aqueles que tenho visto nos últimos tempos nunca mereceram este tipo de análise. Tree of Life (2011) de Terrence Malick é uma obra prima, que foi considerada por um colega meu como uma das obras cinematográficas do século XXI.  A verdade é que aquele século ainda vai pequeno, mas de todo concordo.
O realizador em muitos anos realizou poucos filmes, mas foram sempre muito bem recebidos pela crítica. Também não é de admirar, é um realizador com trabalhos notáveis e que certamente ficará para a História do cinema. Mas a sua marca também será o mistério que o envolve, para perceber basta ler a sua biografia. Formado também em Filosofia, nunca se preocupou com a quantidade, mas mais com a qualidade. Porém, não escapa às críticas dos mais hermenêuticos, já que obras suas não são bem recebidas. Independentemente de tudo isso, o que interessa mesmo falar é do seu último filme.


São variadas e até infinitas as interpretações que se podem tirar do filme. Podemos pegar pelo lado da instituição primordial para a nossa integração na sociedade: a família. Esse suporte vital, que nos educa para a realidade e nos formata segundo eles próprios foram formatados. A nossa adaptação pode ser de liberdade e logo felicidade, mas também autoritarismo e frustração com a nossa individualidade. Ou porque não atingimos as expetativas impostas, logo ascensão social. Ou porque aos olhos dos nossos progenitores somos uns falhados. Ou porque o excesso de querer a perfeição pode criar a dicotomia amor/ódio.
Podemos também ir mais fundo e olhar pelo lado da religião. Essa fé que nos dá equilíbrio neste mundo que parece não ter sentido mas que agarrados à ideia de divindade dá-nos uma ideia de um destino paradísico e que esta vida é apenas uma passagem para outra. Mas como está mais que provado o fundamentalismo pode levar a atos loucos de expressão. Na minha opinião Malick quer ir mais longe.
Ele pega no lado social e religioso e mistura-os com o lado da ciência, mais de um ponto de vista da evolução de Darwin.


A árvore é constituída por vários ramos, a vida também. Temos o ramo da família, o ramo social, o ramo existencial,  o ramo individual, entre outros. Porém, todos esses ramos fazem parte de uma génese total que não é mais do que a Árvore da Vida. Malick estetiza no filme a sua percepção do mundo e como ele está ligado pelas suas diferentes ramificações. Como elas são constituídas, como são influenciadas e o que objetivamente conseguem dar a cada um.  
O realizador, de uma forma soberba preocupa-se que as imagens consigam passar esta mensagem pondo vários momentos no filme de autêntico blackout. Deixa as imagens falar sem rodeios e sem interferência sonora, a não ser aquela que nos faz pensar. Focaliza a natureza e a sua verdadeira importância na Árvore da Vida, porque é ela a totalidade de toda a realidade.


Do lado da família utiliza o flashback e o flashforward como ferramentas para percebermos o lado do amor com carinho e o amor com autoritarismo. Demonstra pela vozoff  a consciência de cada um e como muitas vezes acarretamos os nossos problemas e inquietações apenas no nosso interior, sem queremos exteriorizar.  E o nosso único confidente é o nosso ser bipolar existente num único cérebro.
Contudo, o que podemos considerar uma harmonia, simplesmente pode ser desfeita porque a Árvore da Vida é feita propositadamente com estes percalços. 
No fundo, o flashback passa-se unicamente no contexto e espaço família, onde existe o amor/carinho e amor/autoritarismo. No flashforward temos a ascensão social que tanto nos impuseram, mas individualmente somos perturbados pela memória e a inquietude mental. 

  
Em suma, o filme fala-nos da vida naquilo que é, puro e duro. A vida é uma ramificação de experiências, sensações, influências, socializações, momentos, fé, etc. Tudo isso nos perturba e nos molda e não é o mesmo lidar com isso coletivamente que nosso interior. 
Gostava apenas terminar apenas com mais uma nota. Na tradicional narrativa, estamos habituados apenas três atos: introdução, desenvolvimento, conclusão. No meu ponto de vista, o filme é constituído por quatro atos. Porém não sei que nome deverei usar para o adjetivar. 
Com tantos gaps no argumento, que são lacunas propositadas, o que dei conta é que o desenlace está presente na introdução e não na conclusão como é normal. Mas não quero entrar mais profundamente nessa questão, vejam por vocês próprios e sintam se podem concordar comigo. 

2 comentários:

Karen Oliveira disse...

espero que você resolva entrar sim "mais profundamente nessa questão".

Unknown disse...

em relação aos actos (ainda não adoptei o A.O.), pode-se definir num conceito:

narrativa não-linear.

ou rompimento do fio condutor.

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